Este pensamento anti-inflamatório
quando sinto espalhar-se pelo quarto
lenços perfumados, cremes, frio,
rancor e preservativos.
Sei que se ganha a vida sempre à rasca
e perde-se à vontade.
A verdade e a ternura são produtos que nada vendem.
Mas o negócio segue em frente como as meninas na estrada.
Ainda esta solidão que não merece o meu pensamento:
o ardor das carícias, as unhas lascadas, os escarros.
Os barcos permanecem no estômago da noite.
Restam por aqui esses abortos
que regateiam a minha esperança.
Velhos encalhados nas margens do álcool,
dispostos a desatar os nós do meu desespero.
E porque as minhas voltas são sempre nós apertados,
assim me deixo ficar:
em ódio, em nojo
e em veneno.