Monthly Archives: Outubro 2013
fim da revolução (“PRAVDA” – a revista de malasartes)
das descobertas de velhas publicações na estante cá de casa.
hoje proponho a leitura de “fim da revolução…” um texto de julio henriques publicado na revista “PRAVDA” – a revista de malasartes publicada em coimbra na primavera de 1989.
a revista “PRAVDA” era uma edição da editora “FENDA”.
o texto que hoje propomos (através de cópia das 4 páginas da “PRAVDA” – deverão clicar nas imagens para melhor leitura) mantém-se extremamente actual:…
“O tema-coqueluche da presente saison, que começou há anos e vai prolongar-se, é o já celebrado fim da revolução. (…) “
OLHAR DE UMA PONTE (OU SERÁ DE UMA MANIFESTAÇÃO)
texto de fernando rebelo recebido por email
No autocarro…
Já fiz. Nem as contei.
—
Fernando Rebelo
haja esperança
O PORTUGUÊS SEM FILTRO
O PORTUGUÊS SEM FILTRO
AVISO
Confesso ter muitas dúvidas sobre a natureza e o alcance do que escrevi. Experimento neste exacto momento uma enorme vontade de explicar – ou pelo menos enquadrar – o que escrevi, no entanto não vou fazê-lo, e isso talvez já diga o suficiente.
Luís Fernando Silva Nogueira
14 de Outubro de 2013
Manifesto em forma de poema
Poema em forma de manifesto
“Minha pátria é a língua portuguesa”
Fernando Pessoa
“Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo”
Alexandre O’Neill
Canto Primeiro
“O país é pequeno e a gente que nele vive também não é muito grande”
Almeida Garrett
Os portugueses raramente são inteiros, existem apenas do pescoço para cima ou da cintura para baixo.
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Um português nunca está bem ou mal, está sempre assim-assim. Ou então mais ou menos.
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O que mais distingue o português é a sua quase obsessiva necessidade de imitar os outros.
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Não ter cão e caçar com gato, é ser esperto; ter cão e caçar com gato é ser português.
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O Homem está entre a besta e o arcanjo, o português está entre a besta e o marmanjo.
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O português é o primeiro a classificar a sua condição como boa. Uma boa merda, se quisermos ser exactos.
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O português odeia a corrupção. Odeia-a com a mesma intensidade com que inveja os corruptos.
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O português é sempre pessimista e taciturno. Mas se é pessimista a tempo inteiro, já taciturno só o é por turnos.
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Os portugueses são tristes, tão tristes que os sorrisos têm sempre de se submeter a rigorosos testes de selecção.
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Não é verdade que todos os portugueses sejam uma grande seca. Pelo menos 30% são seca extrema.
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Se existisse um super herói português estou certo que diria que com um grande poder vem sempre uma grande irresponsabilidade.
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É certo e sabido que o português ama os seus semelhantes. Por isso é que idolatra e escolhe para seus chefes homens sem qualidades, homens que por sua vez acreditam acima de tudo na ausência de qualidades dos portugueses.
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Apesar do aumento crescente das desigualdades em Portugal os portugueses continuam cada vez mais iguais: nenhum quer verdadeiramente ser diferente.
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O português preocupa-se muito com quem é e com quem não é, quando melhor seria que se preocupasse com o que quer ser; ou então que não se preocupasse de um todo e se limitasse, apenas, activamente, a ser.
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O português não discrimina os outros, o português trata igualmente mal uns e outros.
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Os portugueses invejam quem foram e lamentam quem são. A continuarem assim, grande coisa nunca hão de ser.
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Existe uma tão grande correspondência entre a pequenez do país e a pequenez dos portugueses, que é legítimo perguntar se foi o país que os fez à sua medida ou se foi exactamente o contrário.
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Ser português não é um estado, ser português é uma aldeia.
Canto Segundo
“Esta é a ditosa Pátria minha amada”
Luis de Camões
Em Portugal nada se cria, nada se perde, tudo fica na mesma.
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Em Portugal, o tempo comporta-se de forma muito estranha, o presente repete sempre o passado e o futuro não é mais do que o presente repetido.
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O português acredita muito mais que qualquer coisa irá correr mal do que bem. Talvez por isso a vida lhe corra sempre mais mal do que bem.
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O português esforça-se tanto para parecer o que não é que acaba por parecer aquilo que afinal é: alguém a tentar ser desesperadamente aquilo que não é.
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O português, ora fala de mais, ora fala de menos, que é afinal o que normalmente acontece a quem não tem nada para dizer.
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Será que o português não gosta de trabalhar porque ganha pouco, ou será que ganha pouco porque não gosta de trabalhar?
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Não sei do que o português gosta menos, se de ser mandado se de mandar, mas, mandem-me onde me mandarem, deixem-me dizer que esse é sem dúvida o principal problema de Portugal.
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É verdade que os portugueses contam piadas por tudo e por nada, mas o seu verdadeiro problema, se querem mesmo saber, não é contarem piadas, é acreditarem nelas.
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Em Portugal diz-se que os políticos são todos ladrões, mas é mentira, alguns políticos são verdadeiros bandidos.
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Em Portugal há um equilíbrio perfeito entre patrões e empregados. Os patrões têm todo o poder e os empregados têm toda a responsabilidade.
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O português ri muito, mas é quase sempre um riso alarve, que ri dos outros e nunca de si mesmo. Talvez por isso, quem sabe, os portugueses sejam tão tristes.
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O português quase nunca é quem se julga ser; ou então é quem não é, o que é afinal uma outra forma de não ser.
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O português é persistente, muito persistente, persiste continuamente nos seus erros.
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O português sente sempre saudade da ditosa pátria sua amada, aquele lugar triste onde nasceu e onde cedo conheceu o exílio.
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Escusado será dizer que o português adora a língua, mais a de vaca do que a de porco, sobretudo quando estufada, com ervilhas.
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Para o português a sua língua é cada vez mais a sua pátria, uma pátria resistente e portátil que poderá sempre ter consigo quando estiver longe de Portugal.
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Os portugueses dividem-se entre os que detestam e os que idolatram o processo de decisão, o que é o mesmo que dizer que um português, qualquer que ele seja, nunca chega realmente a decidir o que quer que seja.
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Os portugueses conhecem mil e uma maneiras de cozinhar bacalhau, mas têm um único modo de ser, triste e envergonhado
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Em dias de nevoeiro, os portugueses passeiam-se orgulhosamente de óculos escuros.
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Quando saem do país os portugueses partem sempre à aventura. Tivessem mais dinheiro e fariam sem dúvida turismo.
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Os portugueses são excelentes em muito do que são e do que fazem, mas isso é porque se pode ser excelente até a ser péssimo.
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Falar mal de Portugal e dos portugueses é sem dúvida uma das duas formas mais comuns de ser português. A outra é nunca falar bem.
Canto Terceiro
“terra de poetas tão sentimentais que o cheiro de um sovaco os põe em transe”
Jorge de Sena
Os portugueses são tristes e são poetas. Por isso é que em Portugal tantos poetas são tristes e tantos tristes são poetas.
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Esquecida que foi a raça, os portugueses tornaram-se rafeiros. Uma raça de rafeiros, se é que me percebem.
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Em Portugal a única regra que não tem excepção é a de que não há regra sem excepção.
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Portugal tem sido tão constante a exportar portugueses quanto a não se importar com eles.
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O português ora se considera génio ora se considera idiota, mas a verdade é que o português é génio a ser idiota.
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Da discussão nasce a luz, é verdade, mas também é verdade que a luz se paga, e está cada vez mais cara. Talvez seja por isso os portugueses evitem tanto discutir.
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Deixasse o português de ser tão imprevidente e desenrascado e até poderia ser extraordinariamente audaz e criativo.
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Saudade é uma palavra que só existe em português. Imarcescível também. E o mesmo para tartamudo.
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O português é sempre vários, o problema é que a soma nunca dá certo.
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O português culpa-se muito, é verdade, mas desculpa-se ainda mais.
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O português observa muito, pensa bastante e critica ainda mais. Não é de admirar que pouco tempo lhe reste para agir.
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Ser Português não se ensina; mas também quem o quereria aprender?
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Ser português é uma arte muito antiga, desacreditada e inútil, completamente inútil.
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Nada vale a pena em Portugal, quando não é o corpo é a alma que está mal.
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Os portugueses vão sempre pelo sonho, por isso é que vivem cada vez mais afastados da realidade.
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Os portugueses pensam sempre que os seus conterrâneos são ou poços de virtudes ou arranha-céus de vícios e nunca simples seres humanos.
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Portugal, tal como os portugueses, vai sempre andando, andando, andando. Talvez por isso nunca chegue verdadeiramente a lugar algum.
Canto Quarto
“Deus e o demónio são incompatíveis em toda a parte, excepto em Portugal”
Teixeira de Pascoaes
O português é um ser paradoxal, vive acima da lei e abaixo de cão.
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Um verdadeiro português nunca tem orgulho de Portugal mas tem sempre orgulho de ser português. Ou será ao contrário?
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Encontrem um homem que se orgulhe de Portugal e dos portugueses e encontrarão um homem ingénuo. Ou então perigoso, perigoso e necessário.
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Para o português é sempre tudo ou nada e por isso raramente alguma coisa.
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Num país atrasado como Portugal, nunca chegar a horas é sem dúvida uma sólida demonstração de sensatez.
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Em Portugal a justiça não é lenta, o tempo é que passa cada vez mais depressa.
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A tão apregoada facilidade de adaptação dos português até poderia ser um modo de superar os seus problemas, não fosse apenas e tão só uma forma de os aguentar.
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O português orgulha-se de o ser e manifesta-o, mas só em situações de legítima defesa.
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Ser português é sempre não ser, não ser mais do que isso.
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O português é pacífico, mas revolta-se com facilidade, a mesma facilidade com que de novo se submete.
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No que toca à língua, os portugueses lembram alguém que atraiçoa o seu amor a torto e a direito, por tudo e por nada, e depois afirma que o amor é que é traiçoeiro.
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Se um português está fraco é porque está doente, mas se está forte é porque está gordo.
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O português reage aos problemas e adversidades de forma singular mas invariável: ou somatiza ou soma tusa.
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Os portugueses lamentam-se tanto que, quando não se lamentam muito, lamentam-se ainda mais.
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O pior de ser português, de acordo com os portugueses, é que não há nada pior do que ser português.
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Talvez os portugueses não saibam quem querem ser, mas sabem sempre que não querem ser quem os outros querem que eles sejam.
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Os portugueses gostam de se unir em volta de grandes causas, desde que possam, claro está, fazê-lo de forma discreta e reservada, sem ninguém dar por isso.
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Os portugueses não acreditam na providência, mas acreditam em homens providenciais. O impossível parece-lhes sempre mais apetecível.
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Os portugueses são infelizes e talvez não o possam deixar de ser, mas bem podiam habituar-se a ser infelizes à vez ou apenas de vez em quando.
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Os portugueses mudaram; mudaram tanto e tão depressa que ainda não deram por isso.
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Ser português é afinal uma enorme arte e um ainda maior desastre.
Canto Sobressalente
“Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar”
Jorge Palma
O português nasce curvado sob o peso da história e da vergonha. E é certo e sabido que quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
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Não se diga que os portugueses não são corajosos. Os portugueses nascem com um medo atávico de séculos e enfrentam-no todos os dias.
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O português tem de ser pobre. Que não se tenham quaisquer dúvidas sobre isso! De que outra forma poderiam alguns estar cada vez mais ricos?
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Para um português as coisas nunca são tão más quanto parecem, são sempre piores, muito piores.
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O melhor amigo do homem é o cão, o melhor amigo do português é o cão-guia.
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O português lembra-me muitas vezes aqueles homens que no esforço desesperado de esconder a sua calvície ainda mais a revelam.
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O português é inculto, piegas e não gosta de fazer sacrifícios. Não admira assim que tenha os governantes que tem.
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O verdadeiro português é completamente falso, tanto mais falso quanto mais verdadeiro.
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A verdade é que o português nunca fica bem na fotografia e todos os espelhos o deformam.
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Em Portugal as mulheres são de longe superiores aos homens. Estes são sempre referidos como homenzinhos e homenzitos; aquelas são sempre referidas como mulherões e mulheraças.
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Os homens portugueses eram magníficos, sabiam tudo e nunca choravam. Depois veio a democracia e criou a mulher.
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O corpo humano é constituído por 60 a 70 por cento de água. Fosse vinho e todo o planeta seria português.
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Portugal mudou bastante nas últimas décadas. Assim tivesse mudado o modo de ser português!
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Os portugueses preferem afugentar os seus problemas a enfrentá-los. Por isso é que as discussões em Portugal acabam sempre aos gritos e aos berros.
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Os portugueses acreditam em Portugal, não parecem é acreditar que são Portugal.
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Deixassem os portugueses de se preocupar tanto com o seu real tamanho e talvez pudessem vir a ser do tamanho dos seus sonhos.
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Os portugueses são pobres, filhos de pobres e netos de pobres. Porque raios quererão ser outra coisa?
*
Houve um tempo em que estávamos orgulhosamente sós. Agora não estamos sós. E muito menos orgulhosamente. *
É verdade que Portugal só conhece três velocidades: devagar, devagarinho e parado. Mas isso que importa, se levarmos o país no rumo certo?
*
Os portugueses têm de mudar. Nem que para isso tenham de deixar de ser portugueses.
*
É verdade que os portugueses avançam sempre de olhos postos no passado e, em consequência, de costas voltadas para o futuro, mas isso não me parece um problema. Para alguma coisa existem os espelhos retrovisores!
*
Há um modo comum de ser português, não tenho dúvidas sobre isso, mas não é menos verdade que há portugueses e há portugueses. Há e sempre houve! Os Portugueses são Portugal, o resto é paisagem.
*
Eu sou o meu país, sou aquele que se cala, sou aquele que se diz. Sou o meu país e isso é que me dói. Sou o meu país e isso é que me rói.
Recanto Único
PORTUGAL
Portugal não é uma boa zona
para o comércio e para o desenvolvimento
industrial
Portugal não é uma boa zona
para a agricultura e para o turismo
internacional
Portugal não é uma boa zona
para quem aqui vive e sobrevive
mal
Portugal não é um boazona. Não é.
Portugal é um grande cabrão.
Antes fosse!
a crise está quase resolvida… e a contenção está no fim, porque…
7 paisagens 7 (colagem digital de martin d’alba)
olhão (da restauração) – capital do graffiti
chegou outubro
estamos em outubro
viva a republica!
dia 5 de outubro é o “dia de portugal”…
o verdadeiro dia de Portugal é o dia 5 de outubro
– 5 de outubro de 1143
– 5 de outubro de 1910
duas datas. dois marcos da história de portugal
em 1143 foi assinado o tratado de zamora que reconhece a independência da nação
em 1910 é proclamada a republica (definitivamente libertos dos braganças)
e neste dia 5 de outubro, o de 2013, prestamos a nossa homenagem aos dois homens que abriram caminho à mudança eliminando da cena política o rei e o “príncipe herdeiro” – Alfredo Costa e Manuel Buíça.
texto (completo) e imagens aqui