uma vontade enorme
a de voar
vergado sob a carga da vontade
mas já sem vontade nenhuma
ergue-se com um só pé
e
canta áreas de opera ao ritmo dos martelos
que pairam nos seus degradantes pensamentos
o abismo era pedra
e
o soalho aproximava-se
mais
mais
mais
e
mais
com um segredo no olhar
esfregou as pontas dos dedos na face enrugada
sorriu frouxamente
e
contornou os ossos
as formigas devoravam-lhe o estômago
degrau por degrau
desce a escadaria
em frente
deixa entreaberta a porta da revolta
que há para além da imagem?
perguntava-se envolto por sonos profundos.
o mundo foi revisitado por muitos olhos
e
pelos pensamentos que navegavam os lençóis
tudo converge directamente para o exterior
porque a vontade é enorme
a de voar
em queda livre
mas